O astrônomo Polychronis Papaderos, do Centro de Astrofísica da
Universidade do Porto (CAUP), usou o telescópio espacial Hubble para
obter observações extremamente precisas da galáxia I Zw 18.
A sua investigação levou-o a concluir que esta
enigmática galáxia anã poderá levar à correção dos atuais modelos de
formação de galáxias. A galáxia anã I Zw 18 é
uma das mais estudadas, pois entre as que apresentam uma forte atividade
de formação estelar, é das mais pobres em elementos pesados. Além
disso, a proximidade desta galáxia à Terra, conjugada com um tempo total
de observação de quase 3 dias, permitiu obter dados com uma resolução e
sensibilidade sem precedentes. A análise destes
dados revelou que esta galáxia tem um extenso halo de gás, sem qualquer
estrela, cerca de 16 vezes mais extenso do que a componente estelar da
galáxia. Isto resulta da grande quantidade de energia libertada pelo
surto de formação estelar pelo qual a I Zw 18 está passando. Toda essa
energia aquece e perturba o gás frio existente na galáxia, que emite uma
quantidade de luz comparável à emitida por todas as estrelas da galáxia
– a emissão nebular. "Este trabalho é inovador
porque nos dá a primeira prova observacional que as jovens galáxias, que
passaram por surtos de formação estelar no início do Universo,
estiveram envolvidas num enorme halo de emissão nebular. Este halo
extenso é aquecido pela imensa energia de milhares de estrelas massivas,
que se formaram durante o surto, e que rapidamente explodem como
supernovas”, disse Papaderos. Até agora, para as
galáxias mais distantes, onde não é possível atingir a resolução
necessária para distinguir entre a emissão do gás e das estrelas,
assumia-se que o gás ocupava a mesma região que as estrelas e que estas
últimas eram responsáveis por emitir quase toda a luz observada. No
entanto, este estudo mostrou que as galáxias que estão atravessando um
surto de formação estelar, à semelhança da I Zw 18, podem não obedecer a
esta regra. Este resultado poderá levar a correções significativas em
pesquisas desenvolvidas em astronomia extragalática e cosmologia. Um
exemplo disto é o cálculo da massa correspondente a estrelas numa
galáxia, que é estimada a partir da luminosidade total. No entanto, tal
como estes resultados demonstram, até 50% dessa luminosidade pode
corresponder à emissão nebular, e não a estrelas. Outro
dos resultados obtidos neste trabalho mostra que, segundo Papaderos, "a
distribuição da emissão nebular pode ser confundida com um disco de
estrelas, o que pode resultar em classificar erradamente a galáxia,
ainda em formação, como uma galáxia já totalmente formada” (uma espiral
ou uma elíptica gigante). Assim, muitos dos estudos anteriores para
determinar a evolução de galáxias desde o início do Universo, poderão
ter cometido estes erros na classificação. Para
além disso, estes resultados têm também uma grande importância para o
conhecimento atual acerca de formação de galáxias, uma vez que a equipe
concluiu que a I Zw 18 é extremamente jovem, tendo a maioria das suas
estrelas menos de bilhões de anos. Ou seja, esta jovem galáxia está
neste momento passando pela fase dominante de formação estelar, à
semelhança das que se formaram logo a seguir ao Big Bang.
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