Uma nova imagem do centro da galáxia peculiar Centaurus A, obtida com o
Atacama Large Millimeter/submillimiter Array (ALMA), mostra como este
novo observatório permite aos astrônomos observar através das opacas
camadas de poeira que obscurecem o centro da galáxia, com uma qualidade
nunca antes alcançada.
O ALMA está atualmente em fase preliminar de
observações científicas, já que se encontra ainda em construção. No
entanto, já é o telescópio mais potente do seu gênero. O observatório
acaba de emitir uma chamada de propostas para o seu próximo ciclo de
observações, durante o qual o telescópio, em crescimento, terá ainda
mais capacidades. A Centaurus A é uma rádio
galáxia elíptica de grande massa, uma galáxia que emite intensamente no
rádio, e é a mais proeminente, assim como a mais próxima, rádio galáxia
no céu. Ela situa-se a cerca de 12 milhões de anos-luz de distância na
constelação austral do Centauro. Esta galáxia chama-se Centaurus A
porque foi a primeira fonte principal de ondas rádio a ser descoberta na
constelação do Centauro, nos anos 1950. Também é referida como NGC
5128. A galáxia foi descoberta pelo astrônomo britânico James Dunlop em 4
de Agosto de 1826. Por isso mesmo Centaurus A
já foi observada com muitos telescópios diferentes. O seu centro muito
luminoso abriga um buraco negro com uma massa de cerca de 100 milhões de
vezes a massa do Sol. Na radiação visível, a
característica mais importante desta galáxia é uma faixa escura que
obscurece o seu centro (ver por exemplo Um olhar profundo na Centaurus A).
Esta faixa de poeira é composta por enormes quantidades de gás, poeira e
estrelas jovens. Estas características, juntamente com a intensa
emissão rádio, são evidências de que Centaurus A resultou da colisão
entre uma galáxia elíptica gigante e uma galáxia espiral menor, cujos
restos formam a faixa de poeira. Para se poder
ver através da poeira obscurante da faixa central, os astrônomos têm que
observar utilizando radiação com maiores comprimentos de onda. Esta
nova imagem da Centaurus A combina observações feitas em comprimentos de
onda da ordem de um milímetro, obtidas com o ALMA, e observações feitas
em radiação infravermelha próxima. Por isso mesmo, fornece-nos uma
visão bastante clara que atravessa a poeira em direção ao centro
luminoso da galáxia. As novas observações ALMA,
mostradas em tons de verde, amarelo e laranja, revelam a posição e o
movimento das nuvens de gás na galáxia. São as observações mais nítidas e
sensíveis obtidas até hoje. O ALMA foi afinado de modo a detectar
sinais com um comprimento de onda de cerca de 1,3 milímetros emitidos
por moléculas de monóxido de carbono. O movimento do gás na galáxia
provoca ligeiras variações neste comprimento de onda, devido ao efeito
Doppler. O efeito Doppler é a variação no comprimento de onda de uma
onda para um observador que se desloca relativamente à origem da onda.
Moléculas em nuvens de gás no espaço emitem radiação em comprimentos de
onda bem definidos, e por isso o movimento destas nuvens leva a uma
ligeira variação dos comprimentos de onda que são detectados. O
movimento do gás é mostrado nesta imagem como variações na cor. As
regiões mais verdes correspondem ao gás que se aproxima de nós, enquanto
as mais alaranjadas mostram o gás que se afasta. Podemos assim observar
que o gás que se encontra à esquerda do centro se desloca na nossa
direção, enquanto que o gás à direita do centro se desloca no sentido
contrário, indicando deste modo que o gás está orbitando a galáxia. As
observações do ALMA estão sobrepostas a uma imagem da Centaurus A
obtida no infravermelho próximo com o instrumento SOFI montado no New
Technology Telescope (NTT) do ESO. A imagem foi processada com o auxílio
de uma técnica inovadora que retira o efeito de cortina da poeira (veja
Centaurus A: uma galáxia canibal).
Podemos observar um anel de estrelas e aglomerados que brilham com uma
cor dourada, os restos da galáxia espiral que está sendo desfeita pela
atração gravitacional da galáxia elíptica gigante. O
alinhamento entre o anel de estrelas observado pelo NTT em radiação
infravermelha e o gás observado pelo ALMA nos comprimentos de onda
milimétricos, enfatiza aspectos diferentes de estruturas semelhantes na
galáxia. Este é um exemplo de como observações com outros telescópios
podem complementar as novas observações do ALMA. A
construção do ALMA, no planalto do Chajnantor no norte do Chile, estará
completa em 2013, quando as 66 antenas de alta precisão estiverem
totalmente operacionais. Metade das antenas já foram instaladas. As
observações científicas preliminares com uma parte da rede começaram em
2011 (veja O ALMA abre os olhos) e já estão produzindo resultados extraordinários (veja Funcionamento de um sistema planetário próximo).
As observações do ALMA da Centaurus A mostradas aqui foram obtidas
durante a fase de comissionamento e verificação científica do
telescópio.
Source: http://cosmonovas.blogspot.pt/2012/05/alma-vira-seus-olhos-para-centaurus.html |