Universe Awareness é coordenado pelo astrofísico português Pedro Russo.
O trânsito de Vénus, um pontinho negro a deslocar-se quase insensivelmente na frente do Sol, que poderá ser visto no Havai amanhã e, em algumas zonas da Ásia, durante a manhã de quarta-feira, dia 6, não tem espetacularidade visual. Na história da astronomia, no entanto, a sua importância foi decisiva, porque permitiu calcular a distância a Vénus e, a partir daí, a dimensão do sistema solar. De tão raro, é sobretudo um momento especial para quem está nos pontos da Terra onde é possível observá-lo. É o caso de Timor-leste e por isso Dili foi a cidade escolhida para um projeto do programa internacional Universe Awareness (UNAWE), que é coordenado pelo jovem astrofísico português Pedro Russo, na Universidade de Leiden, na Holanda, e cuja filosofia é levar a astronomia até às crianças e jovens desfavorecidos.
"Pensámos que era uma boa oportunidade para fazer divulgação da astronomia em Timor-Leste. Nunca se tinha feito aqui antes nenhuma atividade destas", afirmou Pedro Russo ao DN, ao telefone, a partir de Dili, onde a sua equipa está desde o primeiro dia de Junho. "Não temos parado. Já fizemos sessões para mais de 800 crianças e jovens nas escolas, com observações com telescópios, jogos com modelos dos planetas, do sistema solar e das galáxias, fizemos palestras na Universidade Nacional de Timor Lorosae e formação para 50 professores do ensino básico de Dili e dos bairros circundantes", conta o coordenador do UNAWE. "É bom ver o brilho nos olhos quando se apercebem da visão diferente que astronomia oferece sobre o lugar da Terra na galáxia e no universo".
A ideia do projeto Trânsito de Vénus 2012 em Timor-Leste, no âmbito do UNAWE, nasceu quase por acaso. "Recebi em Leiden a visita de uma astrofísica indonésia que me perguntou o que estávamos a preparar para a ocasião", lembra Pedro Russo. "Apercebi-me de que o fenómeno era visível na totalidade em Timor e começámos a pensar nisto. Depois foi uma questão de estabelecer contactos, e está a ser fantástico".
Ana Bessa, professora de Matemática na Escola Portuguesa de Dili há sete anos, e a coordenadora local da iniciativa, partilha a opinião. "Nunca se fez nada assim em Dili, em divulgação científica, isto vai deixar marca nos mais jovens, porque lhes estimula a curiosidade e a vontade de conhecer mais e de aprender mais", diz.
O grande momento começa na quarta-feira de manhã, às 7.14 (hora local), logo após o nascer do Sol. Durante toda a manhã, até às 14.00, a equipa do UNAWE estará na praça central de Dili, junto ao Palácio do Governo, com quatro telescópios, muitos pares de óculos com filtros especiais que permitem olhar para o Sol e um sistema de projeção num ecrã gigante, para as pessoas seguirem o trânsito de Vénus