Vénus passa à frente do Sol
Vénus passa à frente do Sol esta noite e se quer ver é agora ou nunca. Este fenómeno, a que se chama trânsito, só volta a acontecer daqui por mais de um século, em 2117. E o que é que isto interessa? No limite, pode contribuir para a busca de vida noutros planetas.
O trânsito de Vénus não é visível no ceú português, porque acontece à noite, mas pode ser seguido online e em direto em vários sites. A partir das 23h10 portuguesas, um ponto pequeno sobre a mancha solar. Vai ser assim: «Vamos ver Vénus a passar sobre o Sol, sobre o disco solar. Vai ocorrer à noite, durante cerca de seis horas», descreve ao TVI24 David Luz, do Observatório Astronómico de Lisboa/Centro de Astronomia e Astrofísica da Universidade de Lisboa: «É um acontecimento raro, a órbita de Vénus e da Terra não estão alinhadas e só raramente é que os três objetos estão sobre a mesma linha. Acontece quando Vénus cruza o plano da órbita da Terra, com intervalos de 121 anos e meio e de 105 anos e meio, e depois com dois trânsitos separados por oito anos.»
Desde que o homem tem capacidade para observar, só aconteceram seis trânsitos de Vénus, em 1639, 1761, 1769, 1874, 1882 e 2004. Os astrónomos estudaram o trânsito de 2004 e voltam a fazê-lo agora, sabendo que será a sua última oportunidade: «Hoje já sabemos muita coisa sobre Vénus, mas há outras coisas que podemos aprender. Houve estudos feitos em 2004, agora voltamos a ter a segunda oportunidade. A próxima vez já não será no nosso tempo.»
O trânsito de Vénus tem grande importância na história da astronomia. David Luz: «No séc. XVII Edmond Halley, o mesmo do cometa, determinou uma maneira de calcular a distância exata entre a Terra e o Sol, e no séc. XVIII vários países organizaram expedições para medir essa distância. Até aí sabia-se distâncias relativas, mas não a distância absoluta.»
E continua a poder ser útil para o futuro. Para descobrir vida longe da Terra. Não em Vénus, aí já se sabe que não há. «Uma das coisas que se vai fazer é, no momento da entrada e da saída, observar a auréola que refracta a luz solar e nos permitirá obter informação, sobre a temperatura e outros dados, importante para compreender como funciona a atmosfera de Vénus», explica David Luz.
Esse conhecimento pode ajudar no estudo dos exo-planetas, planetas com órbitas de outras estrelas. ««Vai ajudar a aperfeiçoar os métodos para estudar a atmosfera de outros planetas. Se o planeta tiver uma atmosfera, já é possível determinar qual é a composição dessa atmosfera e continuar a procura de atmosferas que permitam suportar a vida. Um dos grandes objetivos da astronomia atual é procurar nos exo-planetas os que são semelhantes à Terra», explica David Luz.
«Ainda não conseguimos detetar planetas do tamanho da Terra, só alguns que são duas ou três vezes maiores, o que já é muito bom. Mas a maior parte dos que já foram detetados são da dimensão de Júpiter, uma dezena de vezes maiores que a Terra. Quando isso acontecer, o que queremos saber é como é a sua atmosfera», observa, voltando à comparação entre Vénus e a Terra: «A diferença fundamental é a quantidade de dióxido de carbono, que provoca o efeito de estufa. Na Terra o azoto e o oxigénio são os principais gases. Em Vénus é quase só dióxido de carbono, daí as temperaturas altíssimas. Na Terra, apesar de existir, por enquanto ainda há menos efeito de estufa.» Por enquanto, reforça: «Temos de ter cuidado...»
Portugal vai participar na investigação internacional do trânsito desta noite. Pedro Machado e João Retrê, investigadores do OAL, estão na Índia, para recolher informação e depois juntá-la à dos investigadores que vão estar noutros pontos do planeta. Na próxima sexta-feira, 8 de Junho, o OAL promove uma actividade dedicada ao trânsito de Vénus, com várias palestras e relatos dos investigadores portugueses que participaram na observação.
Source: http://www.tvi24.iol.pt/tecnologia/transito-venus-fenomeno-astronomia-vida-noutros-planetas/1353142-4069.html |