Embora emita menor quantidade de gases de efeito estufa na atmosfera, o diesel de petróleo também pode causar impactos significativos na vida marinha. Isso porque sua formulação possui elementos naturais que poderiam facilitar a absorção de substâncias tóxicas pelos animais. É o que indica estudo realizado na Universidade Estadual Paulista (Unesp), em São José do Rio Preto (SP). O trabalho, feito pelo professor Eduardo Alves de Almeida, do Departamento de Química e Ciências Ambientais, e sua equipe, foi publicado no periódico Chemosphere. O biodiesel é um combustível derivado de fontes renováveis como óleos vegetais – entre os quais mamona, dendê, girassol, babaçu, soja e algodão – ou de gorduras animais que, estimulados por um catalisador, reagem, principalmente com o metanol, gerando ésteres metílicos dos ácidos graxos presentes nesses óleos. A pesquisa analisou as espécies Oreochromis niloticus, ou tilápia-do-nilo, e Pterygoplichthys anisitsi, o cascudo marrom, após exposição controlada ao diesel de petróleo e ao biodiesel de sebo animal. A equipe estudou exposições de dois a sete dias nas duas espécies ao diesel derivado de petróleo com biodiesel B5 (contendo 5% de biodiesel), biodiesel B20 (contendo 20% de biodiesel) e biodiesel puro (100% de biodiesel), a 0,1 e 0,5 ml/L de água. "O B20, nas condições testadas, apresentou menos efeitos adversos do que o diesel de petróleo e do que o B5, o que pode indicar uma alternativa de combustível menos danoso do que o diesel. Entretanto, mesmo o biodiesel puro pode ativar respostas biomecânicas em peixes, nas condições experimentais testadas, indicando que esse combustível também pode representar um risco para a biota aquática", destaca o artigo.
Segundo Almeida, embora parte da origem do biodiesel seja renovável – óleos vegetais, gorduras animais, algas e materiais gordurosos –, pouco se sabe sobre os efeitos desse combustível, assim como seu grau de toxicidade, sobre os animais. Segundo os resultados apresentados no artigo, o biodiesel pode ocasionar, de forma mais agressiva que o diesel de petróleo, a oxidação nas membranas celulares das brânquias dos peixes. De acordo com o pesquisador, isso sugere que os elementos naturais do biodiesel, especialmente os derivados de ácidos graxos, são facilmente absorvidos pelos peixes e, de certa forma, auxiliam a entrada de mais substâncias tóxicas do petrodiesel presentes na mistura, que na ausência do biodiesel como ‘facilitador’ eram mais difíceis de serem absorvidas. O artigo "Biochemical biomarkers in Nile tilapia (Oreochromis niloticus) after short-term exposure to diesel oil, pure biodiesel and biodiesel blends (doi:10.1016/j.chemosphere.2011.05.037)", de Eduardo Alves de Almeida e outros, pode ser lido na "Chemosphere" emwww.sciencedirect.com/science/article/pii/S004565351100590X.
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