Um grupo de cientistas conseguiu que ratos paraplégicos devido a lesões na espinal medula voltassem a andar e até a correr, depois da regeneração do sistema nervoso central.
Este trabalho desenvolvido durante cinco anos pelos investigadores da Escola Politécnica Federal de Lausanne (EPFL), na Suíça, é apresentado hoje na revista Science. Os cientistas acreditam que dentro de um ou dois anos será possível começar ensaios em humanos no Hospital Universitário de Balgrist, em Zurique.
De acordo com a investigação, a lesão grave da espinal medula pode ter alguma regeneração quando se acorda a inteligência inata do sistema nervoso, como descreve o investigador Grégoire Courtine: «Após um par de semanas de neuro-reabilitação com uma combinação de um arnês robótico e de estimulação eletroquímica, os nossos ratos não só iniciaram movimentos voluntários de locomoção, como cedo começaram a correr, a subir escadas e a contornar obstáculos.»
Apesar de se saber que o cérebro e a espinal medula podem recuperar de lesões moderadas devido à sua neuroplasticidade, no caso da espinal medula com uma lesão grave as possibilidades de recuperação seriam mínimas. Ainda assim, e de acordo com esta investigação, em determinadas condições, a plasticidade e a recuperação podem ocorrer nestes casos graves, desde que a parte da coluna que ficou abaixo da lesão seja «acordada».
Nestes ensaios, os cientistas injetaram uma solução química nos ratos, que ativou os neurónios para que estivessem prontos para coordenar o movimento da parte de baixo do corpo quando fosse necessário. Cerca de cinco a dez minutos depois, os investigadores estimulam eletricamente a espinal medula com elétrodos implantados na camada exterior do canal espinal.
Num artigo publicado na Nature Neuroscience em 2009, Courtine já dizia que, após ser estimulada, a parte inferior da coluna lesionada de um rato assumiu a tarefa de modular o movimento das pernas, permitindo que indivíduos anteriormente paralisados começassem a andar, embora involuntariamente, em passadeiras elétricas. Ou seja, seria suficiente um fraco sinal do cérebro para que o movimento passasse a ser voluntário.
Com o objetivo de testar esta ideia, os cientistas substituíram a passadeira elétrica por um aparelho robótico que suportava os ratos, o que lhes dava a impressão de ter uma coluna funcional. Este método levou os ratos a caminhar até um chocolate que se encontrava no outro lado da plataforma, corroborando a teoria.
«O que parecia ser um treino baseado na força de vontade levou à quadruplicação das fibras nervosas ao longo do cérebro e da espinal medula e esta recuperação prova o enorme potencial da plasticidade, mesmo após uma lesão grave no sistema nervoso central», explicou Janine Heutschi, que trabalhou com a equipa.
Source: http://www.abola.pt/mundos/ver.aspx?id=334290 |