Quarenta e três romenos instalados numa unidade hoteleira do Vimeiro e nenhum ouviu falar das termas. Só fazem uma vida: trabalham cinquenta dias seguidos na prospecção de petróleo e fecham--se cinquenta noites nos quartos duplos ou triplos – alguns a beber cerveja e vodka que compram nos supermercados, a assistir a um canal romeno de TV, a adormecer na rotina. Depois vêm outros para o lugar deles; e hão-de eles regressar.
Faltam dez minutos para as 19h00; e dez minutos para o jantar. Vilceanu Bogdan, 21 anos, já esteve na recepção da residencial – o melhor lugar para captar o sinal de internet –, com o computador portátil ao colo e um headset na cabeça, a falar com a família; e ao mesmo tempo, fazia o favor de atender os telefonemas da Roménia e distribuí-los pelos respectivos quartos. É o problema da língua. Agora, o jovem romeno deitou-se na sua cama. O aquecedor ligado no máximo e os vapores do banho do colega de quarto abafam o espaço num efeito de estufa. O cheiro é de mofo. O quarto é pequeno – "o mais pequeno", enfatiza Duarte Nuno, um dos sócios da Residencial Braga. Não há fotografias, nem objectos pessoais espalhados.
Vilceanu é dos poucos fluente em inglês. Na Roménia ganharia 150 euros, em Portugal atinge os 1050. Mas não é cá que gasta – a não ser num telemóvel que já comprou e nas cervejas que vai bebendo. O patrão paga a dormida e as refeições. E é isto que anima os comerciantes.
SALVAÇÃO DO INVERNO
"‘Faça-nos o mínimo que puder’, foi o que me pediu a empresa [romena] Prospectiuni. E eu pensei que sempre seria melhor isto do que não ter os quartos ocupados. Foi uma salvação para o ano e para esta casa" – confessa Duarte Nuno. Cada dormida, com pequeno-almoço, 12,5 euros; o almoço, em ‘lunch box’ (para levar para o terreno), cinco euros; e o jantar em bufete, 7,5. Sempre são 1075 euros por dia. "Trazem um acréscimo de facturação na ordem dos 50 por cento. Não é milagre, mas quase."
A GUERRA DOS PREÇOS
Este é um negócio em que ganha quem pratica preços mais baixos. Humberto Luís, do Hotel Praia Azul, em Santa Cruz, perdeu para a Residencial Braga os trabalhadores agora lá alojados. "Às vezes, acontecia vê-los nos corredores, em cuecas. Isso não é bom. E depois, eram terríveis, queriam que baixássemos os preços dos apartamentos – tinham alugado dez a 1200 euros cada, por mês. E nós não podemos porque os remodelámos há pouco tempo", conta um dos quatro sócios.
O que rendia 19 euros por cada, num total de 760 euros por dia. "Uma feijoada eles não comiam. Gostavam era de frango e de esparguete. Havia muitos que nem tocavam em peixe". Mas desde que Pedro Camarão perdeu o contrato com a empresa romena, o negócio ressentiu-se. "Na estada tivemos uma quebra grande. Mesmo assim, esta semana até temos uns cinco quartos preenchidos. E o restaurante também está em quebra. Não há construção".
PODE SER EXPLORADO?
O luso-canadiano Ricardo João, 33 anos, engenheiro geológico e administrador em Portugal da empresa romena Prospectiuni, explica que neste momento estão a fazer sondagens no terreno para recolher dados que serão entregues à detentora da concessão, a Mohave. "Ficamos com o perfil da geologia que temos no subsolo, normalmente a quatro quilómetros de profundidade. Para obter os dados usamos a vibração sísmica em que a velocidade de propagação das ondas nos diz qual o material que atravessam". É com base nesta informação que se pode descobrir se há petróleo. "Existir petróleo, existe. Agora, será que pode ser explorado?".
A maioria dos proprietários dos terrenos onde se fazem as sondagens sabem que caso haja petróleo, nunca serão eles o seu dono. Segundo explica a advogada Maria Paula Gouveia Andrade, "dificilmente o dono de um terreno onde venha a ser descoberta uma jazida de petróleo ficará com a propriedade da mesma, pois seja através dos mecanismos da expropriação por utilidade pública, seja através da dominialidade pública estatal já prevista no artº 84º/1 CRP, o Estado virá a reclamar os seus direitos, que são afinal os direitos de todos".
150 OPERAÇÕES JÁ FORAM REALIZADAS
As primeiras ocorrências de petróleo reportam a 1844 , em Canto Azeche (concelho de Alcobaça). Entre 1938 e 68, existiu um alvará de concessão para pesquisa para uma área de 23.654 km quadrados no onshore nas bacias Lusitânica (a mais pesquisada de sempre e que se estende ao logo de 252 km abaixo do Porto, incluindo naturalmente a região de Torres Vedras) e do Algarve, segundo a Direcção-Geral de Geologia e Energia.
Das 150 operações realizadas em território nacional, 115 apresentaram indícios de petróleo e gás e das quais 25 estão com produção em testes. As regiões com maiores indícios, no onshore, são Torres Vedras, Aljubarrota, Monte Real e na zona do Barreiro; no offshore, na Bacia Lusitânica, sobretudo ao largo da Figueira da Foz, e nas Bacias do Porto e do Algarve.