O investigador explicou ao "Ciência Hoje” que este projecto estuda "a formação de partículas de aerossóis – as sementes para a formação das nuvens”. Assim sendo, há uma relação "indirecta”"fazer
cenários climáticos, o estudo e maior conhecimento de um fenómeno
físico que é uma parcela muito mal conhecida permitirá melhorar os
modelos climáticos hoje existentes”. do projecto "CLOUD” às alterações climáticas. Apesar de não permitir
António Tomé destacou que o sistema climático não é "linear” e que mesmo que se conclua que o efeito dos raios cósmicos é gigantesco, "esse efeito, colocado perante um modelo climático, pode ter no final um sinal contrário ou ser bastante reduzido”. Trata-se da mesma situação do dióxido de carbono. "Ninguém duvida que a concentração deste composto faz variar a temperatura, mas esse não é o seu único efeito”, exemplificou o investigador.
Experiência CLOUD
A experiência CLOUD consiste numa câmara em que as condições
atmosféricas podem ser simuladas com elevado rigor e precisão. Isto
permite estudar o mecanismo de criação de partículas que servem de
núcleos de condensação, o efeito dos raios cósmicos e da radiação
ultravioleta e saber quais os gases responsáveis pelos mecanismos de
formação de nuvens.
"É uma câmara onde conseguimos uma pureza imensa e
podemos levar a tecnologia ao limite, pois está longe da contaminação.
De forma muito controlada, permite-nos ver o que se passa no início da
formação de nuvens”, frisou António Tomé.
O físico português lembrou que, anteriormente, este tipo de projectos
era "muito difícil”, na medida em que a contaminação dos espaços onde
eram feitas as experiências "não permitiam ter resultados fidedignos”.
Vem daí a relação indirecta com a questão das alterações climáticas. "Em
consonância com outras áreas de conhecimento, o estudo será
efectivamente mais um salto científico na obtenção de cenários
climáticos”, disse, acrescentando que "pode mostrar o quão fidedignos são os que já existem”. As
medições precisas resultantes da experiência CLOUD são importantes para
alcançar um entendimento quantitativo da formação de nuvens, algo que
contribuirá para uma melhor avaliação dos efeitos das nuvens nos modelos
climáticos.
Raios cósmicos melhoram formação de aerossóis
De acordo com Jasper Kirkby, responsável pela experiência, "descobriu-se
que os raios cósmicos melhoram significativamente a formação de
partículas de aerossóis na troposfera média e superior. Estes aerossóis
podem eventualmente crescer para sementes de nuvens”.
Além disso, constataram que os vapores que se pensavam explicarem a
totalidade de formação de aerossóis na baixa atmosfera , fazem-no apenas
numa pequena fracção do observado - mesmo com o aumento associado ao
efeito dos raios cósmicos.
Desempenho português
A equipa portuguesa implementou e actualiza continuamente o sistema de
aquisição e armazenamento de dados e tem uma participação muito activa
no desenvolvimento do sistema de iluminação de ultra violeta.
"São cerca de dez elementos, com especialistas em
astronomias, alterações climáticas, aerossóis ou instrumentação. É uma
equipa interdisciplinar que contribuiu para a integração de todos os
aparelhos do CLOUD, que se ocupa dos sistemas de controlo e da monitorização. Além disso, temos pessoas na análise de dados”, disse António Tomé.
Embora o grupo, na actualidade, se dedique mais à instrumentação, o
investigador da UBI sublinhou que não se vai ficar por essa área. "Queremos
ainda participar activamente nas implicações deste trabalho para os
cenários climáticos e contribuir mais para o desenvolvimento de
instrumentação óptica”, acrescentou.