Figura 1- Mato Grosso, Brasil
Concentração atmosférica de CO2
O estudo, publicado na revista Nature, não apenas desafia a hipótese da Terra Bola de Neve, como também reacende o debate sobre as origens do mecanismo de degelo após uma idade do gelo que terá posto a Terra numa verdadeira bola de neve.
Um dos maiores problemas de uma Terra totalmente coberta de gelo é como essa glaciação teria chegado ao fim, uma vez que o gelo reflete mais radiação solar para o espaço do que as rochas, realimentando uma glaciação contínua.
Os defensores da hipótese da Terra Bola de Neve apelam para os vulcões, que teriam libertado uma quantidade suficientemente grande de CO2 na atmosfera para aquecer a superfície do planeta e fazer com que o gelo derretesse.
Neste cenário, as concentrações de CO2 deveriam ter oscilado em torno de 120.000 partes por milhão por volume (ppmv) - o equivalente a 12% - o que é 300 vezes maior do que a concentração de CO2 hoje.
No entanto...
A fim de avaliar se o que acima citado aconteceu realmente, os investigadores foram medir a concentração atmosférica de CO2 na época estudando rochas depositadas naquele período.
As rochas estudadas são carbonatos, depositados 635 milhões anos atrás, e que foram expostos em uma pedreira no estado do Mato Grosso.
Os cientistas compararam a composição isotópica do carbono entre os carbonatos e a matéria orgânica em organismos fossilizados, o que reflete as concentrações atmosféricas de CO2.
Os resultados mostram que as concentrações de CO2 naquela época eram muito próximas das de hoje (menos de 3.200 ppmv), o que está muito longe de ser suficiente para fazer descongelar a massa de gelo que se pensava que a Terra teria nessa altura.
O trabalho não põe apenas em causa a hipótese da Terra Bola de Neve, como também implica que estes episódios glaciares não tenham sidotão intensos como se sugeriu anteriormente.
Além disso, os novos dados são consistentes com a ideia de que a atmosfera naquele período era muito mais pobre em oxigénio, cerca de 1%, em relação aos níveis de hoje, de aproximadamente 20%.
Os cientistas envolvidos nesta investigação irão por isso ter de examinar diferentes mecanismos ou gases para além do CO2, tais como o metano, capazes de "descongelar a Terra"!