A baixa diversidade genética de uma espécie juntamente com o diminuto
número de indivíduos e isolamento das populações, o que promove a
consanguinidade, são as causas principais para uma rápida extinção. O
lince-ibérico, (Lynx pardinus) o felino mais ameaçado do mundo –
em estado de ‘perigo crítico’ – cumpre todos esses requisitos. No
entanto, um grupo internacional de investigadores descobriu que a
diminuta diversidade genética desta espécie não é recente, tem já, pelo
menos, 50 mil anos.
Os cientistas analisaram o material genético de restos de linces
ibéricos e descobriram que pelo menos nos últimos 50 mil anos a sua
variabilidade genética foi sempre muito baixa. Assim, a actual ameaça
não vem desse aspecto. O estudo está publicado na revista «Molecular Ecology».
Existem apenas duas populações de linces-ibéricos isoladas uma da
outra, uma na Serra Morena (172 exemplares) e outra em Doñana (73),
segundos os censos de 2010. No passado, até há aproximadamente 100 anos,
este felino estava amplamente distribuída no território ibérico. A
decadência populacional acentuou-se em meados do século XX.
A fragmentação dos habitats, um território cada vez mais
urbanizado, a escassez de uma das suas presas favoritas, o coelho, e a
caça foram factores determinantes para esta espécie se encontrar
ameaçada.
O problema da variabilidade genética foi considerado tão sério que foi
necessário levar um exemplar da Sierra Morena para Doñana, numa
tentativa de promover uma maior riqueza genética.
Os investigadores explicam que centraram a sua análise genética na
mitocôndria, mais propriamente numa zona altamente variável do seu
genoma. Trabalharam com 51 restos, entre ossos e dentes, encontrados em
diferentes sítios de Espanha. Os resultados mostram uma variabilidade
igual à das populações actuais.
Os resultados foram uma surpresa para os cientistas, visto que sendo
normal a baixa diversidade em animais em perigo de extinção, não é
normal essa falta em exemplares mais antigos. Este resultado sugere que
as populações de linces terão sido sempre pequenas.
Assim, uma espécie com uma pobre diversidade genética não está,
forçosamente, condenada à extinção, pelo que esta característica não
deve ser um obstáculo aos programas de preservação da espécie.
Artigo: 50,000 years of genetic uniformity in the critically endangered Iberian lynx